Mil mulecotes e shots de Balalaika
Corte, é o choque e os shots são bala, lá e cá
Pra quem Deus torce? Pinote, a guerra é Laica
Pros bota, o norte é minha morte, estilo laika
Dois mais dois, cinco, foderam com a matemática
Foge, ó o poste, minto, presos tipo Attica
Pique NAS, sonho sem celas, volte, África
Leicas, likes, lókis e cops de automática
Plateia asmática, tosse, qual a tática?
No chão, como epilético, torto, pupila estática
Vermelho, o olho lacrimeja, cena dramática
Tromba rota no beco, arrepia sem estática
Palmeiras e Palmares, a problemática
Peles de reles pretos, lógica pragmática
Fugir pro mato com medo, população apática
Firmou o que nós ganhou desde cedo, sou apátrida
Mais frio do que Antártida, gambé segue a prática
A cena que o IBOPE aplaude é sintomática
Fora das quatro linha, a violência é democrática
Polícia arrastou memo, a noite tava fantástica
Eu, a mina e os cara, do nada, o povo dispara a correr
Geral em danger, tipo um rolezin na Zara
Compara, cria uma escara na cultura, não acha
Favela mal pegou no lápis, polícia desce a borracha
E não para, nós no desforre, pique povo Guajajara
Multidão na escada, corre, quem tentou parar, rodara
Heróis no pau de arara
A imprensa tá tirando o que chamaram de conflito, só tinha um lado atirando
Sem camisa e com pressa, os bico apontando suas peça
Nós andando em caco de vidro, é tipo O Pagador de Promessa
O choque veio forte em quem grudou na grade
Entre pedra e ferro, o ódio conduziu a eletricidade
Fui pra ver quatro gênio, ganhei lacrimogêneo
Uma quimera que deságua na esfera de tungstênio
Diferiu o relato singelo na voz do malaco
Então, pergunta pro Barcellos quem tentou deixar nós em caco
Armaram o corredor polaco, cês joga, eu rebato
Sou treinado em taco, passo voado, carro eslovaco
Dum ponto fraco, Naco de força contra os opaco
E a gente só queria liberdade igual Otaku
Era o show da minha vida e nem no palco eu tava
Meu grito era como um apelo enquanto eles cantava
Um, dois, um, dois e o desespero que a bala vaova
Foi transformando em pesadelo o dia que eu sonhava
Justo no show do Racionais, ação irracional
Eu vi muita estratégia, parecia passional
Ficou claro a vida loka, a Praça da Sé virou Minnesota
E a gente era trinta mil George Floyd em potencial
E eu, com chinelo na mão, corri pra não virar saudade
Vi quando queimou o busão e quando parou a cidade
Parecia cenário de guerra na terra da oportunidade
Fizeram de tudo possível pra gente não sair da comunidade
Não teve mais rap no centro, quatro anos sem a gente poder se ouvir
Até que, em 2011, retornou com Projota e Ogi
Batemo o recorde de público, chorei quando do palco eu desci
Sem V de vingança, só V de vitória, porra, é o rap, fi
Nós é a massa, se bate, cresce, a gente amassa
Nós é a rua, nós não recua, não há quem faça
Um homem na estrada volta pra casa trazendo a taça
Mas demorou, porque até Jesus chorou naquela praça
compositores: Emicida - Rashid - Projota