Quem vê parece que sabe o que é a vida sem a cor do sol
Sem ver o dia chegar, sem ver a fuga do dia
E ainda ter que agradecer com tal sinal da cruz
Benzer o dedo e rezar pela luz de Maria
Quem vê parece que suga tudo que é problema faz-se
Inventor veste o emblema da dor o caçador de agonia
Dia e noite, noite e dia o mesmo sofredor
Faz do seu mundo de cor, sua casa sombria
Eu que cresci no escuro sei das dores imorais do meu futuro
E as armadilhas de lá, do outro lado do muro
Vejo você dizer que a vida é tanto, tanto não
Cheio de prego no chão, tanto caco de vidro
Quero esses olhos vendados, com o desespero de inutilizados
Quero te ver indagar, a geometria da vida
Verás que nunca teve nada que se lamentar
Que sua dor não é mais a primeira aliada
Espero quando o tradutor essa injuria me expor
Não conte que o sofredor mora em casa
Aquele que se dê atrás que já intimidei com paz
Que não aceita nunca mais sair na brasa
Voltar por cima, sorrir em prosa, gelar o clima
Mande a ele essa injuria pra cutucar seu eterno ócio
Pra machucar e laminar um homem em silêncio
Mande a ele palavras com a ponta aguda abridor
Pra ver se para de dor, e olha atrás de seu muro
A vida é tão simplesmente fácil de regar
Basta plantar o inocente e colher o maduro
Corra e diga pra ele que o presente faz corrida para frente
E o futuro pra trás, como um encontro marcado
Daí então o esperado dessa colisão
É que revela-se o homem ou o pobre coitado